Enquanto ele se arrumava para o jogo de futebol, fiquei a observá-lo o com um olhar distante. Seus movimentos rápidos, precisos, pesados e firmes ao colocar
o meião fizeram lembrar, vagamente de algumas imagens da minha infância em que
via meu pai lavando os braços e as pernas após o trabalho no sítio. Suas pernas
fortes, coberta por pelos de modo que estes não chegavam a obscurecer a
brancura de sua pele. Ele passava bastante sabão nos braços e pernas, lembro-me
de ver aquela espuma ser formando e logo em seguida via a água escorrer levando
a espuma e a sujeira para baixo, deixando os pelos escorridos.
Lembro também quando ele acabava
de tomar banho sentava no sofá para tomar um chimarrão ou conversar. Lembro-me
do cheiro do sabonete que ele usava. Gostava quando ele me pegava no colo e eu
sentia sua pele fresca do banho frio e o cheirinho de sabonete phebo.
Ao lembrar isso agora vejo que
não me lembro de quase nada e o pouco que lembro, lembro-me de maneira
imprecisa.
Tem uma flor do mato que também me
faz recordá-lo. O cheiro dessa flor selvagem me lembra de quando andava a
cavalo com ele na mata. Eu andava na frente quando era pequenina. Como eu amava
meu pai.
Quando já estava grandinha e ele
brigava comigo, eu chorava muito e desesperadamente. Então ele dizia: ‘Nossa,
quanto sentimento! Ele no seu conhecimento empírico percebeu desde cedo meu
temperamento passional e exagerado.
Mais tarde, numa determinada
situação da minha vida em que chorei demasiado, uma amiga me falou: ‘Nunca vi
alguém chorar tanto, por tanto tempo e com tanta intensidade’
Foi a última
vez que chorei.
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