sábado, 6 de dezembro de 2014

2012.05.23

Enquanto ele se arrumava para o jogo de futebol, fiquei a observá-lo o com um olhar distante. Seus movimentos rápidos, precisos, pesados e firmes ao colocar o meião fizeram lembrar, vagamente de algumas imagens da minha infância em que via meu pai lavando os braços e as pernas após o trabalho no sítio. Suas pernas fortes, coberta por pelos de modo que estes não chegavam a obscurecer a brancura de sua pele. Ele passava bastante sabão nos braços e pernas, lembro-me de ver aquela espuma ser formando e logo em seguida via a água escorrer levando a espuma e a sujeira para baixo, deixando os pelos escorridos.
Lembro também quando ele acabava de tomar banho sentava no sofá para tomar um chimarrão ou conversar. Lembro-me do cheiro do sabonete que ele usava. Gostava quando ele me pegava no colo e eu sentia sua pele fresca do banho frio e o cheirinho de sabonete phebo.
Ao lembrar isso agora vejo que não me lembro de quase nada e o pouco que lembro, lembro-me de maneira imprecisa.
Tem uma flor do mato que também me faz recordá-lo. O cheiro dessa flor selvagem me lembra de quando andava a cavalo com ele na mata. Eu andava na frente quando era pequenina. Como eu amava meu pai.
Quando já estava grandinha e ele brigava comigo, eu chorava muito e desesperadamente. Então ele dizia: ‘Nossa, quanto sentimento! Ele no seu conhecimento empírico percebeu desde cedo meu temperamento passional e exagerado.
Mais tarde, numa determinada situação da minha vida em que chorei demasiado, uma amiga me falou: ‘Nunca vi alguém chorar tanto, por tanto tempo e com tanta intensidade’
Foi a última vez que chorei.



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